Veja quem gasta mais e quais são os técnicos e jogadores mais caros do país.
A maioria está se endividando como nunca. PLACAR fez um levantamento para saber quais clubes do Brasil mais gastam com salários de jogadores.
O jogador mais bem pago do país não mudou: ainda é Ronaldo (com 1,8 milhão de reais mensais). No Corinthians, ele ganhou a companhia de Roberto Carlos (300 000 reais mensais) e continua convivendo com Souza (175 000 reais) e Edu (cerca de 200 000 reais). O clube até que economizou com a troca de Mano Menezes (350.000) por Adílson Batista (250.000). Só que Adílson vai engordar seu salário com cerca de 50 000 reais por mês, graças a um antigo débito do Corinthians com ele, dos tempos de atleta.
Para os cartolas corintianos, o gasto com o Fenômeno não conta na folha de pagamento porque o grosso de seus vencimentos vem de contratos de publicidade. Mas o dinheiro precisa entrar no clube para chegar ao atacante, que recebe 550 000 reais do Corinthians. “O valor que ele ganha de patrocínio não entra na folha de pagamento, isso é marketing”, diz o presidente Andrés Sanchez. De patrocínio, Ronaldo gera 20 milhões anuais para o Alvinegro e embolsa 15 milhões. “É como se ele pagasse para jogar”, diz Luís Paulo Rosenberg, vice de marketing.
Apesar dos altos gastos e de ter uma dívida que supera os 100 milhões de reais, a diretoria corintiana afirma que a situação está sob controle e que fechará o ano com superávit.
JEITINHO BRASILEIRO
Fluminense recebe do seu parceiro rico, no caso, a Unimed 2,5 milhões de reais dos 4,2 milhões da folha de pagamento, segundo dados da diretoria — concorrentes acreditam que o gasto mensal chega a 5 milhões de reais. A parceira paga em média 80% dos salários mais altos. Os valores assustam. Deco ganha 550 000 mensais e Fred, 460 000.
O Internacional também aposta em parcerias. Apoiado pelo torcedor fanático e milionário Delcir Sonda, o Colorado não poupa em contratações. Repatriou Rafael Sóbis, que chegou para ganhar 300 000 reais mensais, e possui muitos jogadores recebendo acima de 150 000 reais por mês. Para o técnico Celso Roth, paga 300 000 reais. O título da Libertadores ainda lhe rendeu 1 milhão de reais de premiação.
Diferentemente do Flu e do Inter, o Palmeiras prefere inovar. A contratação de Kléber, por exemplo, só aconteceu porque o clube trocou de patrocinador. Colocou a Fiat no lugar da Samsung e pegou 7 milhões de reais antecipados. Mais engenhosa ainda foi a operação para trazer Valdívia. Para pagar o Al Ain-EAU foi necessária uma fiança bancária, uma vaquinha entre o grupo de sócios-remidos chamado Eternos Palestrinos e uma parceria com o conselheiro Osório Furlan Júnior, que adquiriu 36% dos direitos do chileno.
Apesar de usar métodos diferentes, o Alviverde não fica muito atrás do Fluminense em gastos. Só Luiz Felipe Scolari ganha 700 000 reais. “Não pagamos nem a metade do que ele ganha. Quem banca a maior parte é o patrocinador”, diz o presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo.
Entre os jogadores, Kléber é o recordista com 373 500 reais mensais. Nessa conta entram luvas e valores que recebeu pela venda de parte de seus direitos. No total, ele fatura 2 milhões de euros por ano, livres de impostos. Logo atrás, aparece Valdívia, com 299 500 mensais. Nesse valor estão 500 000 euros de luvas diluídos nos salários, em cinco anos. “Contratamos jogadores caros, mas negociamos outros que ganhavam bem, como o Diego Souza e o Cleiton Xavier”, diz Belluzzo.
A mão aberta do dirigente não combina com seu discurso quando assumiu o Palmeiras e pregou uma união entre os times para que fosse estipulado um teto salarial a fim de botar um freio nos salários. “O teto só funciona se todo mundo cumprir o combinado. Se você faz o teto sozinho, você se ferra porque os outros pagam mais e levam o jogador”, afirma o presidente palmeirense.
Belluzzo é ainda um dos maiores entusiastas de uma prática que a maioria dos clubes adotou: o alongamento de dívida. Os cartolas pegam um empréstimo alto num banco para saldar débitos menores com outros bancos. E passam a ter apenas um empréstimo maior para pagar. Como garantia de pagamento, dão cotas de TV, patrocínios e até rendas dos jogos. O Palmeiras, por exemplo, conseguiu autorização de seu conselho de fiscalização para pegar 39,6 milhões no BMG dando as cotas dos próximos cinco Campeonatos Paulistas como garantia. Se não pagar, o banco recebe o dinheiro direto da Globo. A estratégia é criticada pela oposição, que acredita que o dinheiro é usado para pagar (altos) salários atrasados. O clube chegou a dever pelo menos dois meses de direitos de imagem. Além disso, os opositores alegam que Belluzzo jogou a dívida para seu sucessor.
“Estamos reestruturando a dívida do clube. É melhor pagar uma dívida longa com taxas baixas que uma curta com taxas altas. A oposição não conhece isso porque é coisa recente. Vou deixar uma dívida menor para o próximo presidente”, assegura o cartola.
No Rio de Janeiro, a prática de comprometer as cotas de TV também está sendo usada. Os quatro grandes do estado deram como garantia as receitas de transmissão do Campeonato Carioca de 2011. “Os clubes se veem na necessidade de gastar mais a curto prazo. Não acho que esse é o melhor dos caminhos. Mas, se eles pedem o nosso aval para não afundar, temos que dar”, afirma o presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, Rubens Lopes.
Mesmo assim, o Vasco sofre com atrasos. No dia 20 de agosto, o clube pagou um dos dois meses que devia a seus jogadores. O time ainda tem que lidar com a penhora de sua renda para pagamento de dívidas trabalhistas antigas, uma delas para o atacante Euller. No clássico com o Fluminense, por exemplo, o time receberia 533 685 reais, mas pouco menos da metade desse valor foi penhorado.
Até quem se gabava de ter a casa arrumada, como o São Paulo, aderiu à moda. Recentemente, ofereceu pelo menos três anos de receitas de TV do Estadual para movimentar sua conta garantida, espécie de cheque especial.
O Tricolor, quinto que mais gasta, adotou outra prática entre clubes, em especial aqueles com altos salários de jogadores que rendem abaixo do esperado: emprestar atletas e continuar bancando parte dos vencimentos. Os são-paulinos ainda pagam 65 000 reais, metade do salário de Marcelinho Paraíba, emprestado ao Sport; e 50 000 reais para Washington, que ganhava 190 000 e está no Fluminense.
“As pessoas que me questionam sobre o Washington falam que ele está marcando gol no Fluminense. Mas a transferência foi interessante para nós, pelo momento que ele vivia aqui”, afirma João Paulo de Jesus Lopes, diretor de futebol do São Paulo, clube que tem uma dívida na casa dos 100 milhões.
O São Paulo ganhou fôlego com a venda de Hernanes, por 13,5 milhões de euros, mas mantém algumas medidas austeras em sua parte administrativa. Quando um funcionário de fora do futebol pede demissão, a prioridade é evitar contratar outro para a função — contenção de despesas que destoa de caras contratações para salvar o time, como a de Ricardo Oliveira, que recebe cerca de 200 000 reais mensais.
Outro cartola que põe a mão no bolso para pagar quem já defende outras cores é Luís Álvaro do Oliveira Ribeiro, presidente do Santos. Ele ainda banca 40% do salário de Fábio Costa, emprestado ao Atlético-MG. “É mais inteligente fazermos isso que pagar 100%. Quando cheguei aqui, gastávamos 2 milhões por mês a mais do que arrecadávamos”, diz Ribeiro. Quando ele substituiu Marcelo Teixeira, a folha de pagamento do clube era de 4 milhões de reais por mês. Caiu para 2,8 milhões, mas voltou a subir e hoje está em 3,3 milhões. Isso sem contar o mínimo de 1,5 milhão de reais por ano (125 000 por mês) prometido a Neymar em contratos de publicidade. Se o clube não atingir esse valor, tem que pagar do próprio bolso. Sem esses 125 000 mensais, Neymar ganharia 180 000 reais — mesmo salário de Paulo Henrique Ganso e menos do que Keirrison, que recebe 200 000 reais.
Tantos exemplos de gastança descontrolada mostram que o alto poderio dos clubes vai até a página 2, onde estão os mecanismos que eles usaram para ter grandes jogadores e técnicos. Novas estratégias e parcerias, que enchem os olhos dos torcedores, por seus resultados a curto prazo, podem significar, mais adiante, crises gigantescas. É o dilema do futebol nacional, em que os clubes precisam se endividar para tentar conquistar algo ou assistir de longe aos concorrentes se destacarem…
CONFIRA O RANKING ABAIXO:
FOLHA SALARIAL
1 – Corinthians: 5,05 mi
2 – Internacional: 5 mi
3 – Santos: 4,8 mi
4 – Fluminense: 4,2 mi
5 – Palmeiras: 4 mi
6 – São Paulo: 4 mi
7 – Flamengo: 3,5 mi
8 – Cruzeiro: 3,4 mi
9 – Gremio: 3,2 mi
10 – Atletico MG: 2,9 mi
11 – Vasco: 2,35 mi
12 – Botafogo: 2,1 mi
TOP SALÁRIOS DE TREINADORES
1 – Felipão (Palmeiras): 700 mil
2 – Murici (Fluminense): 550 mil
3 – Luxemburgo (Atletico MG): 500 mil
4 – Dorival Jr. (Santos): 350 mil
5 – Celso Roth (Inter): 300 mil
6 – Joel Santana (Botafogo): 270 mil
7 – Renato Gaucho (Gremio): 260 mil
8 – Adilson Batista (Corinthians): 250 mil
9 – Cuca (Cruzeiro): 230 mil
10 – P.C. Gusmão (Vasco): 150 mil
11 – Silas (Flamengo): 150 mil
12 – Sergio Basesi (São Paulo): 20 mil
TOP SALÁRIO DE JOGADORES
1 – Ronaldo (Corinthians): 1,8 milhões
2 – Deco (Fluminense): 550 mil
3 – Deivid (Flamengo): 475 mil
4 – Fred (Fluminense): 460 mil
5 – Kleber (Palmeiras): 373,5 mil
6 – Neymar (Santos): 305 mil
7 – Roberto Carlos (Corinthians): 300 mil
8 – Felipe (Vasco): 300 mil
9 – D’alessandro (Inter): 300 mil
10 – Rafael Sobis (Inter): 300 mil
De 250 a 299,000 reais:
Kleberson – Flamengo
Renato Abreu – Flamengo
Carlos Alberto – Vasco
Emerson – Fluminense
Souza – Gremio
Leandro – Gremio
Alecsandro – Inter
Tinga – Inter
Valdivia – Palmeiras
De 200 a 249,000 reais
Indio – Inter
Renan – Inter
Fabiano Eller – Inter
Marcos – Palmeiras
Belletti – Fluminense
Conca – Fluminense
Rogerio Ceni – São Paulo
Diogo – Flamengo
Keirrison – Santos
Léo – Santos
Edu – Corinthians
De 150 a 199,000 reais
Diego Souza – Atletico MG
Diego Tardelli – Atletico MG
Maicosuel – Botafogo
Loco Abreu – Botafogo
Lucio Flavio – Botafogo
Willian – Corinthians
Souza – Corinthians
Fabio – Cruzeiro
Val Baiano – Flamengo
Léo Moura – Flamengo
Juan – Flamengo
Giuliano – Inter
Guinazu – Inter
Abondanzieri – Inter
Kléber – Inter
Illan – Inter
Washington – Fluminense
Victor – Gremio
Arouca – Santos
Ganso – Santos
Rodrigo Souto – São Paulo
Fernandão – São Paulo
Ricardo Oliveira – São Paulo
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Matéria publica pela Revista Placar.
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